Série Super-Herói: - As Aventuras da Sofia

Olá, vou postar aqui a continuação do primeiro episódio As Aventuras da Sofia.
As Aventuras da Sofia retrata a vida de uma rapariga de 15 anos que subitamente tem um super-poder: velocidade. Sabe que isto não é normal e, por isso mesmo, não quer contar a ninguém. No entanto, os seus dias são repletos de situações que ela tem que enfrentar para esconder o que lhe aconteceu mas nem sempre é fácil. Será que pode ser considerada uma super-herói?


Parte 3:

               Mais para o final dessa mesma tarde, decidiram ir à marina de Portimão, uma das maiores de todo o Algarve. Apesar de nenhum deles ter a intenção de alugar um barco, passearam pelo cais e por entre as plataformas onde estavam ancorados barcos e iates. Sofia divertia-se a tentar adivinhar de quem pertencia cada barco. Se pertencia a uma família grande com muitos filhos, se eram estrangeiros ou portugueses ou a grupos de amigos. As opções eram imensas.
                Sofia gostava de fitar o horizonte, de se imaginar dentro de um barco e percorrer aquele manto de água até encontrar terra. Sabia que do outro lado estaria Marrocos, mas gostava de ela própria ir ver com os seus próprios olhos. A mãe sempre lhe dissera que fazer viagens era um desperdício de dinheiro e de tempo quando se podia ver imagens e vídeos desses destinos que ela sempre quisera ir pela internet. Não era a mesma coisa, dizia-lhe. Havia um mundo inteiro por descobrir e ia-se limitar a visitá-lo por um ecrã?
                Perdida nos seus pensamentos, não ouviu o burburinho que, entretanto, se começou a ouvir à sua volta. Apenas quando Andreia lhe bateu no braço é que se apercebeu o que estava a acontecer. Um cruzeiro aproximava-se perigosamente da marina sem parecer querer abrandar. Sofia mal o viu, compreendeu de imediato que algo não estava bem. A proa estava completamente virada para direção da marina e em vez de abrandar a velocidade, aumentava a olhos vistos. O navio, chegou à conclusão, estava fora de controlo e seguia como se estivesse em alto mar, alheio à tragédia que ia causar. O leve burburinho passou rapidamente a pânico quando os altifalantes da marina se fizeram ouvir recomendando com urgência a todos que estavam nas plataformas e no cais que saíssem para o exterior da marina.
                Foi com um horror imenso que Sofia se apercebeu que a sua família estava demasiada longe de qualquer saída para escapar ao embate do navio visto que se encontravam na plataforma mais distante do cais. Numa fração de segundos viu o medo estampado na cara de todos os seus primos, tias e na sua mãe e por momentos achou que era o fim. Iam todos morrer.
                Com o medo e o horror a percorrer-lhe pelas veias, sentiu novamente a explosão dentro do seu corpo, mas desta vez muito maior. Sentiu as pernas e os braços a tremer e a preparem-se para a alta velocidade, mas desta vez não o contrariou. Concentrou-se, agarrou em sangue frio não sabendo como, e definiu uma estratégia. Sabendo que na sua alta velocidade, a velocidade com que as situações acontecem é muito menor, decidiu primeiro arranjar qualquer coisa que lhe tapasse a cara para que ninguém se apercebesse que era ela. Mariana tinha um saco de plástico na mão que usava para apanhar conchas, arrancou-o lhe, despejou-o e fez dois buracos com os dedos para os olhos e enfiou-o na cabeça atando as asas do saco à volta do pescoço. Em seguida, agarrou na mãe e na tia Margarida, apesar de serem magras, as duas juntas eram pesadas, mas conseguiu, por fim, com que elas se apertassem contra si, e só desejou que desta vez as pernas lhe obedecessem. Para sua surpresa, obedeceram e que de maneira! Quando quis parar no exterior da marina, não o conseguiu – como era de prever, e só o conseguiu fazer já no areal da praia com uma aterragem totalmente desastrosa atirando a mãe para um lado e a tia para o outro. Nunca pensou que tivesse chegado tão longe e o pavor voltou a inundar-lhe quando se lembrou que ainda tinha os primos e a tia Bárbara na marina. Correu o mais depressa que pôde de volta para a plataforma e nunca correra tão rápido como naquele momento. Quando lá chegou, o cruzeiro já tinha embatido na plataforma, mas Sofia nem pensou duas vezes e agarrou nos rapazes – mais leves que a mãe e a tia-, que estavam mais perto do navio, e desta vez começou a correr obrigando-se a pensar “Quero parar no lado de fora da marina, por favor!”. Quando conseguiu parar, novamente com uma aterragem desajeitada, apercebeu-se que parara no esporão (ou no paredão como as pessoas costumam dizer). Já não fora até ao areal da praia, mas mesmo assim não estava satisfeita. O facto de parar longe dificultava o regresso pois tinha de percorrer mais metros e o navio já estava muito perto das primas e da tia. Voltou e constatou que o casco do cruzeiro se encontrava apenas a um metro delas. Teria que trazer as três porque provavelmente não iria conseguir voltar a tempo principalmente por não estar a conseguir parar onde e quando queria. Agarrou nelas e começou a entrar em pânico quando percebeu que não as ia conseguir trazer. Tentou colocar a tia nas suas costas e apertar as primas contra si de lado. Mas todas juntas eram muito pesadas e só conseguira andar poucas dezenas de centímetros. Olhou para trás e o casco estava, a meio metro delas. Não tinha outra alternativa, era o agora ou nunca. Ajeitou a tia nas suas costas, e lembrou-se de passagem que ainda bem que não era o tio Eduardo porque senão era garantido que não ia sair dali vivos, e apertou as primais ainda mais contra si, e reuniu todas as forças que tinha e mais algumas sabe-se lá de onde, forçando as pernas a correr rápido com todo aquele peso em cima delas. Sentiu o casco a embater nas costas da tia e gritou bem alto tal era a frustração e a ânsia de salvar a tia e a primas. Sentindo-se a mover mais rápido, e não desistiu até chegar à saída, mesmo com todo aquele peso que lhe estava a esmagar as costas e os braços tremendo de esforço por levar as primas. Conseguiu por fim, chegar à saída e desta vez não houve aterragem desastrosa. Caiu no chão exausta, mas aliviada por ter salvo todos. Olhou para marina, o navio embateu na plataforma com estrondo, esmagando-a por completo e arrastando todos os barcos ali atracados como se fossem apenas boias de borracha e, por incrível que pareça, imobilizou-se por completo quando chocou contra o cais, surpreendendo todos que pela velocidade com que vinha facilmente iria galgar o cais.
                As primas e as tias, olharam incrédulas para a marina e para o local onde se encontravam e entretanto Sofia já tinha tirado o saco de plástico da cabeça e tentava apresentar a mesma incredulidade que elas.
                - O que é que aconteceu?
                - Ainda há bocado estávamos na marina e agora estamos aqui!
                - Como é que isto foi acontecer?
                - Estão todas bem?
                Acenaram que sim, e neste instante a tia Bárbara olhou horrorizada para a marina e para o navio e começou a gritar em desespero:
                - Oh não! Os meus sobrinhos e as minhas irmãs! Eles não estão aqui! – olhou para todo o lado - Foram apanhadas pelo navio! Oh meu Deus, que desgraça!
                Abraçou-se às suas filhas, também elas desoladas. Sofia, ainda cansada, tentou dizer que estava tudo bem, mas não conseguia se fazer ouvir. Mariana, com os olhos cheios de lágrimas, soltou-se dos braços da mãe e da irmã e tentou abraçar Sofia, mas esta disse:
                - Não, espera. Eles estão bem.
                Mariana não entendia o que Sofia estava a dizer:
                - Como assim? Como é que sabes que eles estão bem?
                - Hum… bem, saber não sei, mas tenho um pressentimento.
                - Um pressentimento? Como é que podes estar a gozar com isto? – gritou a prima perplexa com a descontração de Sofia – tu não vês ali o navio na marina? E não os vês em lado nenhum!
                Tinha que arranjar uma desculpa rápida sem revelar que for ela quem os salvou, mas garantido que todos estavam bem.
                - Tal como nós estamos a salvo, eles também podem estar. Aliás, eu penso ter ouvido alguém a dizer que muitos fugiram para o paredão e para a praia – disse abanando a cabeça e com a mente a descortinar uma bela desculpa – é, foi isso sim, eu ouvi os altifalantes a dizer para as pessoas irem para lá.
                - Eu não ouvi nada – ripostou Mariana, certa de si.
                “Olha, porra!” mas Sofia fingiu não dar importância: - Claro que não, foi tudo tão rápido que nem te apercebeste – disse não escondendo um sorriso.
                Mariana é que não achou piada nenhum àquilo tudo e agarrou-a nos braços:
                - Ouve lá, o que é que se passa contigo? Como é que podes não estar preocupada pelo menos com a tua mãe? Não sabemos se eles estão vivos, eu não ouvi coisa nenhuma no altifalante, não fazemos ideia como é que aqui viemos parar e tu estás para aí a ríres-te.
                Tia Bárbara e Andreia aproximaram-se das duas. As coisas não estavam definitivamente a correr bem.
                - Olha, Mariana, eu acho que até estávamos perto da saída quando tudo aconteceu e por isso mesmo e com os encontrões de toda a gente para virmos embora viemos parar aqui.
                Mariana não estava muito convencida, era uma rapariga teimosa e confiante e era muitas vezes difícil dar-lhe a volta.
                Infelizmente, Andreia não estava do lado da prima:
                - Isto pode parecer estranho mas sinto que pareceu que alguém nos trouxe da marina até aqui num espaço de tempo de poucos segundos.
                Sofia esbugalhou os olhos. “Oh, não!”
                A tia Bárbara ia protestar de como isso soava ridículo, mas a verdade era que ela própria lhe parecera que algo do género tinha de facto acontecido.
                Olhando para Mariana, ela também parecia estar a convencer-se e Sofia tinha de pensar em algo rápido seriamente. Sentiu as pernas a começar a tremer e sentou-se no chão de rompante, antes que fosse fazer mais alguma asneira. As primas e a tia olharam para ela, franzindo a testa.
                - Pois, realmente, agora que falam nisso, eu também senti alguma coisa estranha, mas não sei dizer exatamente o quê.
                Com isto esperava não levantar suspeitas sobre si já que não dava para dar volta à situação e fazê-las pensar que não ocorreu nada de anormal.
                - Eu não sei mesmo o que se passou mas temos de procurar os primos e as tias. Talvez tenham mesmo escapado para o paredão e para a praia – disse Andreia.
                Concordaram todas e foram ao encalço do paredão. Poucos minutos depois, avistavam os gémeos, no paredão, agarrados um ao outro, com o medo ainda gravado nas suas caras, ainda a olhar para o navio, sem saberem o que fazer. Quando as primas e a tia os viram, gritaram de alívio e correram até junto deles, abraçando-os por fim.
                Os rapazes, tal como elas, estavam confusos e garantiam que alguém os trouxera até ali e como estavam tão longe da marina, a hipótese ganhava cada vez mais sentido. De seguida, encaminharam-se para a praia e encontraram a mãe de Sofia e a tia Margarida, também elas confusas e perplexas por no segundo anterior estarem prestes a serem derrubadas por um navio e no segundo a seguir estarem ali na praia. Quando se viram, abraçaram-se com muita força e a chorar de alegria e de alívio por todos estarem bem.
               
               FIM

               Espero que tenham gostado e não se esqueçam de colocar a vossa opinião


Nota: todas as personagens e acontecimentos aqui retratados são pura ficção e por isso a própria descrição da marina de Portimão pode não corresponder inteiramente à realidade.

Comentários

  1. oi, gosto muito de poemas e reflexões filosóficas, mas nem todos que convivo entendem oque isso é,e gostaria muito de ter pessoas que saibam como é sentir essa inspiração capaz de transcrever sentimento em palavras,por isso estou buscando isso aqui,adoraria bater um papo ^^

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